quinta-feira, 31 de maio de 2007

Para espantar a crise

Rogério Costa Arantes
Jornalista

A crise do setor calçadista gaúcho, que em quatro anos já demitiu cerca de 35 mil trabalhadores com o fechamento de 95 fábricas do setor, chega a região com o impacto do anúncio do fechamento da indústria de calçados Reichert provavelmente em julho. Até lá, gradativamente, como uma sentença anunciada, aproximadamente cinco mil funcionários da empresa perderão seus empregos. Só na região, onde a empresa mantém unidades em Três de Maio, Boa Vista do Buricá, Crissiumal e Humaitá, em torno de duas mil pessoas terão que procurar um novo emprego.

O caldo da crise é composto por uma grande quantidade de ingredientes que se combinam em sabores ácidos, e não adianta culpar apenas a relação cambial, desfavorável à exportação com a valorização do real em relação ao dólar. A crise na verdade tem início no trabalho quase escravo da China e no protecionismo dos mercados desenvolvidos, e se agrava com a demora do governo federal em atender algumas reivindicações do setor, como a desoneração do PIS e do Confins, e do governo estadual em liberar os créditos de exportação.

O impacto será pesado para municípios que já vêm enfrentando períodos difíceis, por conta das sucessivas crises na agropecuária e nos setores industriais, e carregam o estigma do lento e difícil desenvolvimento da região, da carência em diversos setores básicos, da falta de oportunidades que provoca o êxodo, rural e urbano, rumo aos cinturões de pobreza dos grandes centros. Não será uma eventual prorrogação do seguro-desemprego, que está sendo solicitada por deputados gaúchos e oferece importante ajuda para uma situação difícil, que vai solucionar o problema.

Em Crissiumal, serão em torno de mil desempregados, em Três de Maio, cerca de 200. A questão é: onde essa gente toda – mão-de-obra qualificada e experiente – vai exercer seu ofício? A essa pergunta, são os municípios afetados e a região que devem responder. O poder público, o setor produtivo, as instituições e a sociedade podem provocar uma reação. Neste caso do fechamento das fábricas calçadistas, por que prefeituras, instituições de ensino superior e iniciativa privada não se unem, aos moldes do programa federal Escola de Fábrica, desta vez com a comercialização de produtos e fins lucrativos? Na região, existem profissionais especializados do setor, mão-de-obra, design de produto, técnicas de marketing e vendas.

Pode ser apenas devaneio, mas seria um exemplo de responsabilidade social para prêmios e reconhecimento. O certo é que é preciso criatividade para espantar a crise. Aqui, é só uma idéia, que merece reflexão. Parece boa, não?

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