sexta-feira, 18 de maio de 2007

Onde fica esse lugar chamado sucesso?


Solicitaram-me que fizesse uma reportagem sobre sucesso. A missão era encontrar pessoas de sucesso e escrever sobre a vida delas. O editor sugeriu uma lista de nomes de pessoas, que ocupam cargos importantes em grandes empresas, na maioria multinacionais.
Com um gravador, um caderno de anotações e uma maquina fotográfica, lá fui eu atrás dos entrevistados. A matéria deveria ficar pronta em uma semana.
Todos os meus entrevistados, afirmaram que se consideravam pessoas de sucesso porque ocupavam cargos importantes. A maioria afirmou que o sucesso é a conseqüência de ter estudado nas melhores escolas, graduado nas melhores e mais conceituadas universidades do país. Além disso, desprenderam muita dedicação em tudo o que fizeram, etc. e etc.
Quando ia entrevistar o último da lista prevista, marquei a hora em seu escritório. Mas ele teve uma “reunião de ultima hora” e pediu para transferir a entrevista para mais tarde. Quando me avisaram eu já estava na recepção da empresa, e resolvi aguardar por lá mesmo.
Enquanto aguardava, sai para rua e encontrei um vendedor ambulante. Estava vestido modestamente e tinha uma aparência de alguém sofrido. Vendia brincos, pulseiras, anéis e outros artigos do gênero. Artesanato que ele mesmo fabricava.
Resolvi fazer a ele a pergunta que eu mais tinha feito aquela semana. - Você se considera uma pessoa de sucesso? Para minha surpresa respondeu que sim. “Sim, de muito sucesso”, disse, com um visível entusiasmo pela oportunidade de responder a uma pergunta de tamanha importância para ele.
Tive que perguntar por que se considerava alguém de sucesso. E ele fez um rápido relato de sua história:
“Tenho 9 irmãos, cada um tem um pai diferente, minha mãe era prostituta. Meu pai eu não conheci, mas soube que estava na cadeia, condenado a 60 anos de prisão por crimes hediondos.
Criei-me sem nada e nem ninguém. Com 7 anos já tinha que lutar pela minha própria sobrevivência na ‘selva de pedra’. Convivi com drogas, criminalidade e tudo de ruim que a rua pode oferecer. Um dia eu decidi que não queria mais aquela vida e decidir correr atrás do sucesso”.
Então me perguntou ele: “um cara filho de uma prostituta com um pai presidiário, que cresceu no mundo sem ninguém, ter uma família e sustentá-la trabalhando dignamente, não é uma pessoa de sucesso?”
Aí, quem ficou sem resposta, fui eu.
Afinal, onde fica este lugar chamado sucesso? No gabinete principal da empresa, no gabinete do palácio da cidade ou na consciência de viver dignamente. As suas custas, é claro.

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